quarta-feira, 24 de março de 2010

Amizade de ônibus.

Era quarta. Dia quente de verão. E aquela garota entrou no ônibus com óculos estilo Robocop, cabelo bagunçado, blusa feita por um amigo, ecobag, muita celulite e por fim, seu chinelo preto. Tão preto que era o último pé a ser olhado. Pé diferente. Chinelo diferente. Sem "frufrus", florzinhas ou estampas. Simplesmente preto. Andou até o fundo do ônibus à procura de um lugar para sentar enquanto todos a olhavam de um jeito esquisito. Encontrou um lugar do lado de uma menina que falava ao celular. "De repente, não mais que de repente", a menina questionou:
- Ei... é... por acaso você sabe se este ônibus passa no Terminal de Vila Velha?
- Nossa... não sei te dizer... desculpa. - disse a garota.
- Ah...
E perguntou para outro passageiro do ônibus que soube informá-la.
E numa fração de segundo a garota do chinelo singular contou uma história busão-humorística.
A menina riu e continuou a conversa.
Um minuto depois as duas estavam falando sobre manteiga.
No minuto seguinte o assunto era bairros..
E no outro, marmita.
E assim os minutos foram passando enquanto as duas conversavam num clima despojado.
A menina disse:
- Onde você mora?
- Moro no bairro República, e você?
- Ah, esquece. Deixa pra lá. Você não vai saber. - disse a menina.
- Talvez eu não saiba, mas tenta.
- Conduza. Você provavelmente já viu em alguma página policial.
- É... acho que eu não sei. Aonde fica?
- Hmm... Sabe São Pedro?
- Sei. - disse a garota.
- Então... fica... lá.
- Ah tá! São Pedro eu conheço, mas eu nunca ouvi falar em Conduza.
- Então, Conduza é ali em frente à Faesa.
- Ah tá.
- Você não é aquelas filhinhas de papai, né? - disse a menina.
- Hahaha. Não, claro que não.
- Ah, tá.
E aí a garota levantou, deu sinal e disse:
- Até o próximo ônibus!
A menina disse: - Até! Ah! Qual é o seu nome?
- Jéssica. E o seu?
- Ana Cláudia.
As portas do ônibus se fecharam e a garota já havia saído, com uma risada interna de uma sensação alegre.
A garota estranha fez uma amizade de ônibus. No caminho para o trabalho. Notou diferenças. Notou semelhanças. E lembrou por diversas vezes como é feliz com tudo o que tem.